Conheça Anguilla, um paraíso com dinheiro da FIFA


Escolher um grupo de 23 jogadores selecionáveis não é exatamente uma tarefa fácil nem para países com imensa tradição no futebol. A primeira lista de Tite na Seleção Brasileira, por exemplo, teve bastantes contestações. Mas agora imagine tentar escolher 23 jogadores espalhados em um raio de 91 quilômetros quadrados, somando menos de 15 mil habitantes. É o desafio de Anguilla, território britânico ultramarino no Caribe atualmente empatado com outras cinco nações na lanterna do ranking da FIFA.

Não se preocupe se você nunca ouviu falar. O conjunto de ilhas que compõem Anguilla chama muito mais atenção pelo aspecto paradisíaco, com praias lindíssimas e águas límpidas. Desenvolver o futebol por lá não é uma missão fácil, mas, apesar de tudo, existe uma federação nacional, uma seleção e dinheiro. Sim, dinheiro, enviado pela FIFA. Mas chegaremos lá.



Há poucos anos, foi construído o primeiro estádio em Anguilla, com capacidade para mil torcedores e que também serve como sede da federação. Resultados, porém, parecem distantes. Considerando adversários filiados à FIFA, a última vitória aconteceu há 16 anos. Em termos de eliminatórias para Copas do Mundo, são cinco participações e só dois gols marcados, ambos também há 16 anos – o que quase nos leva a chamar de “a ótima geração anguilana de 2000”.

Capital anguilana é The Valley, com cinco mil habitantes
De lá para cá, derrotas pesadas e eliminações precoces rumo a Mundiais e a Copas do Caribe. Para a Rússia 2018, o carrasco foi o time da Nicarágua, que fez 8 a 0 no agregado. A seleção tem mantido uma média de dois a três jogos por ano. Em 2016, foram só duas partidas, com 13 gols sofridos e nenhum marcado nas eliminatórias da Copa do Caribe. O time não sai de campo sem ser derrotado desde um empate contra as Ilhas Virgens Americanas há cinco anos.

Mesmo assim, há dinheiro vindo especialmente para um homem: o presidente da federação, Raymond Guishard, que recebeu boas quantas desde 2003 para financiar o desenvolvimento no local.  

“O dinheiro não vem de graça. As consequências políticas de ir contra os líderes da FIFA são terríveis. E é isso o que as associações pequenas, como Anguilla, aprenderam”, comenta David Larkin, advogado desportivo.  O problema é que o dinheiro pode não estar sendo usado apenas para construir estruturas esportivas.



O estádio, por si só, não estava pronto quando Anguilla recebeu a Nicarágua, no começo de 2015. Entulhos eram claramente visíveis ao lado do gramado, que também tinha um aspecto lamentável. Para um estádio tão pequeno, e que teve suas obras iniciadas em 2011, a lerdeza chama a atenção de pescadores de lagosta que trabalham nas redondezas. “Há algo que não está certo, algo que não faz sentido”, diz um deles, em entrevista à Al Jazeera.


A gestão de Sepp Blatter mudou a relação da FIFA com as menores associações, que, em troca, garantiram a reeleição do suíço sucessivas vezes. Com Gianni Infantino no lugar de Blatter, a maré em Anguilla é de incerteza. Jogar futebol por lá é uma missão árdua. Só talvez não seja mais difícil do que investigar o montante de dinheiro enviado ao território nos últimos anos.
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